Uma fantasia dark repleta de neve e sangue. Aqui não tem espaço para personagem bonachão de bochechas rosadas, nem crianças certinhas ou bebidas enlatadas que adoecem nossos sonhos. A mente sombria do escritor e ilustrador Brom nos entrega uma fábula genial e transgressora, enraizada na verdadeira tradição. Um romance fabulesco que deixaria Tim Burton e Guillermo del Toro com a espinha gelada e cabelos arrepiados.

Krampus: o Senhor do Yule começa na véspera das festas natalinas, em um pequeno vale no condado de Boone, na Virgínia Ocidental, onde o músico fracassado Jesse Walker testemunha um fato assustador: sete figuras diabólicas perseguindo um senhor de roupas vermelhas em direção a um trenó com oito renas. Uma cena bizarra e incomum que ganha proporções infernais capaz de mudar para sempre a vida do músico e de todos os moradores do pacato vilarejo.

Vamos descobrir juntos a assustadora origem do Natal. E conhecer a ira sangrenta de uma criatura mitológica de origem pagã que foi acorrentada, esquecida e silenciada de forma cruel por um velhinho gentil e seus adoradores. Trancado, a criatura tem tempo de sobra para se concentrar em uma coisa: Vingança! Chegou a hora da grande revelação. Só existe um verdadeiro Senhor do Natal. E ele voltou para pegar o que é seu. O seu nome será lembrado para sempre. O seu nome é Krampus.

A lenda de Krampus surgiu em paralelo com a lenda do bom velhinho, que por sua vez foi inspirada na figura de São Nicolau, um arcebispo turco que na época do Natal distribuía moedas de ouro às crianças e aos necessitados. O “bom velhinho” deixa a tarefa de punir as crianças más para a figura de Krampus, geralmente representado como um demônio clássico, com chifres, cascos fendidos e língua monstruosa, mas que também pode ser visto como um cavalheiro sinistro vestido de preto ou um homem-fera. Krampus pune as crianças desobedientes, golpeando-as com paus e correntes enferrujadas, antes de arrastá-las em cestas para o inferno.

Se Jesse conseguir sobreviver a essa antiga querela entre os dois, pode ter a chance de se redimir aos olhos da família, salvar os sonhos desfeitos e ajudar a trazer a magia do Natal para o condado de Boone novamente.

Foi somente após conhecer a lenda que Brom resolveu escrever sobre um personagem já retratado nos cinemas, porém sem a mesma maestria do autor. Como ele mesmo afirma no Posfácio: “Meu fascínio pela criatura macabra apenas se aprofundou quando me deparei com a abundância de cartões natalinos vintage retratando a felicidade que ardia em seus olhos. Um deleite monstruoso emanava de sua face enquanto carregava as crianças até a boca do inferno. Como não amar isso?”.

Em Krampus: o Senhor do Yule, Brom altera a adorada mitologia do Papai Noel preservando sua essência, amplificando sua força narrativa e simbólica com lendas nórdicas e histórias de true crime esquecidas pelo tempo. O resultado é uma obra rara emoldurada pela beleza clássica e soturna das ilustrações de Brom. Krampus é um verdadeiro banquete natalino, saboroso, divertido e sangrento na medida certa. Um anti-herói repleto de camadas que carrega uma fatia suculenta de cada um de nós.